Às vezes se tem a estranha sensação de que não resta mais nada a fazer, que todas as possibilidades, que todas as palavras, de algum modo não funcionam mais, não funcionam como antes, se esgotaram. E assim, nesses momentos de silêncio invisível, impregnado na garganta, na caneta e na alma, eu começo a me lembrar. Então lembro de mim, lembro de você e de quem éramos e acabo percebendo que há sempre mais, que há um grande esforço que temos que abraçar todos os dias. Porque as coisas não são fáceis e ninguém jamais nos disse que seria.
Mas talvez nada seja tão impossível assim, talvez ainda não seja tão tarde para qualquer coisa. Talvez tenhamos apenas nos perdido ou, talvez, ainda tenhamos um ao outro mas não sabemos o caminho de volta. Talvez tenhamos ignorado detalhes, andado em círculos, passado por nós mesmos. Talvez tenhamos permanecido estagnados, contidos pelas dúvidas que tínhamos enquanto a nossa única certeza, como um corpo tentando se livrar da gravidade, tentava nos empurrar para frente. Mas nós permanecemos parados. E talvez estejamos ainda paralisados, esperando qualquer coisa acontecer, sem saber.
Talvez nós tenhamos mudado com o passar do tempo e já não nos reconhecemos mais, quem somos, quem fomos; somos apenas rostos estranhos. Mas talvez nós ainda sejamos nós mesmos, querendo as mesmas coisas e sonhando os mesmo sonhos e, se isso for verdade, segure minha mão e me leve de volta, vamos voltar para o começo.
Rebeca Prado ®